quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Introdução

Olá a todos que aqui chegam.
Crio este espaço para que, aqueles que tem interesse na área de antropologia ou sociologia, possam colocar as suas opiniões sobre o assunto sem um compromisso acadêmico muito forte. O objetivo é saber o que as pessoas pensam sobre alguns temas abordados por essa área do conhecimento denominada antropologia.

A antropologia é uma "ciência" onde o estudo do homem está no centro. Antropologia é o estudo do homem como um ser social, cultural e biológico. Tentaremos nos forcar nas duas primeiras. Para aqueles que não sabem, a Antropologia Social busca compreender o ser humano em suas organizações sociais e instituições (parentesco, sistema político). Já a Antropologia Cultural focará em sistemas simbólicos, religiosos e no modo de pensar do ser humano.

Obviamente os antropólogos não são tão ingênuos a ponto de acreditarem que tais sistemas de classificação (Antropologia social e Antropologia cultural) representam facetas distintas de um grupo. Em uma sociedade real está tudo fortemente ligado, a vida social, os sistemas de parentesco, os pápeis sociais que cada indíviduo exerce em seu grupo está diretamente ligado ao seu sistema religioso e simbólico. Muitas vezes ao descrever uma sociedade o antropológo se ve incapaz de separar essas coisas e definir limites de onde termina o campo simbólico e religioso e onde começa a vida social prática e funcional.

Isso é observado em diversas sociedades onde, por exemplo, um individuo que irá realizar a colheita após meses de cultivo (atividade funcional, técnica e prática), não a faz sem antes realizar um ritual e ir para a colheita devidamente ornamentado com penas de aves na cabeça, pinturas pelo corpo, não ter tido relações sexuais na última noite entre outras (atividade ritualistica sem uma função prática).

Bom, no fundo o que a antropologia busca é obter o conhecimento sobre as diversidades culturais. Ou seja, busca entender o que somos, como pensamos, como realizamos nossas ações e porque as realizamos desta maneira através de um espelho fornecido pelo estudo do "Outro". Através disso procurar o que no fim das contas faz de nós seres singulares e humanos utilizando comparações.

Onde quer que existam humanos agrupados socialmente, lá existe um objeto a ser estudado por esta área do conhecimento.

Estejam portanto a vontade para criarem tópicos e postarem assuntos e temas que são passíveis de uma análise social e histórica. Coloque suas opiniões sobre o assunto mesmo que nunca antes você tenha lido um livro de sociologia, argumente mesmo sem nunca ter tido o prazer de assistir a uma aula de antropologia.

Escrevam!!!

6 comentários:

  1. Agora que o espaço para as discussões foi criado, falta somente dar o pontapé inicial com a criação do primeiro tópico para discussão.

    Eu gostaria de sugerir um, muito embora ele diga mais respeito à natureza mesma do ser humano, percebida através da introspecção, do mergulho do sujeito em sua próprio alma, do que à observação exterior que caracteriza as análises antropológicas.

    A fé se fundamenta na confiança cega ou teimosa no abstrato e intangível, naquilo que nos é exterior a nós, ou na concretude das pequenas coisas e da inexorável conclusão de impotência que nasce da auto-reflexão?

    Talvez o fato de não acreditarmos em nada tenha raízes na circunstância de que exigimos provas contundentes e indubitáveis da existência das coisas. Mas se tivéssemos provas, não haveria fé, porque a fé se funda na dúvida.

    E bem assim, pode haver fé se não houver dúvidas?

    Deixo aqui minha sugestão, que talvez não seja pertinente ao tema proposto para discussões, mas cuja indagação tem perturbado a minha mente nesta manhã. Por que não ousar levantá-la?

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  2. Bom, primeira mente, o rotineiro "olá mamãe, to no blog do meu caro doutor Gust".

    Bom, vou aproveitar o pontapé inicial de senhorita Nane (muito prazer, meu nome é André), e tentar partir da sugestão dela.

    Primeiramente, acho que a rigor da palavra, fé não quer dizer crença sem base, quer dizer apenas crença. Então, por exemplo, se creio num muro por que o ví, não quer dizer que não tenha fé na existência do muro só por que tenho provas de sua existência. ACho que fé é uma palavra aplicável tanto pra dúvida quanto pra certeza, sendo a busca de uma comprovação compatível com uma busca pela fé. O que move as pessoas a acreditarem nas coisas varia muito. Alguns acredítam com base em seus sentimentos subjetivos, outros só acreditam com alguma evidência mais mensurável.

    Bom, independente, voltando pro seu parágrafo 3, sobre a fundamentação da fé humana. Não consigo tirar da minha cabeça que a fé humana está intimamente ligada com aquilo que não se conhece, de fato. E no topo da lista das coisas desconhecidas, acho que entra a questão vida/morte. Por que todo mundo que vive, (pelo menos no que nos foi divulgado até hoje) morre. E concordo sim, que a fé, provavelmente, só é possível diante da percepção da impotência do indivíduo diante da vida. Não sei se entendi bem a colocação da "confiança cega ou teimosa no abstrato e intangível", mas acredito que a imposição de forças abstratas (pelo menos para nossa capacidade de percepção) sobre nossas vidas, de fato gera um vazio existêncial que precisa ser preenchido de alguma forma. Seja buscando um sentido naquilo que parece simplesmente aleatório e coercitivo, seja tentando ignorar o que é incontrolável (não entendo, logo não ligo, ou coisa do tipo).

    Bom, não sei se vou conseguir avançar muito nisso, e talvez as minhas idéias fiquem um pouco carentes de uma conclusão. Mas pensando em mais algo, posto aqui de imediato.

    Abraços.

    E parabéns pelas iniciativas, tanto do blog, quanto da primeira discussão.

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  3. Bem, de fato desde minhas mais remotas aulas de filosofia falamos sobre a fé como uma forma criada de se aplacar incertezas. Porém, creio que muito da fé vem sim de algo "provado" para a pessoa. São muitos os que se convertem a uma doutrina por uma prova experienciada por essa pessoa. Ver um espírito, presenciar um milagre, ter tido uma visão... Mil e um são os motivos pra se ter fé em algo e, entre eles, creio que estão os que foram provados para as pessoas que a tem, independetemente de se as outras pessoas acreditam nessas provas ou não.

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  4. Para não me perder em minhas próprias palavras vou começar de maneira direta. A minha resposta para a sua pergunta: "[...]pode haver fé se não houver dúvidas?" é negativa. Não acho que fé e crença significam a mesma coisa. Fé, na minha opinião, é algo mais profundo. Fé está longe de ser algo que você acredita porque teve provas.

    Acho que todos sabem que sou protestante, e vou falar algo sobre isso para me servir de base para a argumentação. Não sei se vocês já leram alguns trechos da Bíblia, mas se você um dia o fizer, e ler qualquer evangelho, verá algo interessante. Nesses 4 livros (Mateus, Marcos, Lucas e João) é relatado alguns feitos de Jesus enquanto caminhava na Terra. Os livros relatam Jesus ressucitando pessoas, dando visão a cegos, curando paralíticos, fazendo os surdos ouvirem, multiplicando pães e peixes e muitas outras coisas. Entretanto aquelas pessoas que ali estavam presenciando todos esses milagres, foram as mesmas que fizeram com que Jesus fosse crucificado. E em diversos outros livros da Bíblia é relatado coisas que Deus fez, como fazer descer fogo do céu, e mesmo assim as pessoas permanecerem incrédulas e totalmente resistentes a ter fé nesse Deus.

    O ponto é que por mais que existam sinais (não somente para a religião protestante, como também para todas as outras) as pessoas muitas vezes não têm fé. Justamente por isso que acredito que fé e crença (crença aqui como sinônimo de acreditar que algo é real) são coisas distintas. As pessoas que viram uma coluna de fogo descendo do céu acreditavam que existia algum Deus responsável por aquilo, mas ainda não tinham fé nesse Deus. Não tinham fé que esse Deus era o criador de tudo, que criou o homem e tudo mais. Da mesma forma que as pessoas que presenciaram esses milagres de Jesus, não acreditavam que aquilo era um truque,mas que eram frutos de algum tipo de poder. Entretanto não tinha fé que ele era o messias prometido, o filho de Deus que viria para tirar o pecado do mundo.

    Estou usando o exemplo da fé protestante porque é a que eu mais conheço, mas acredito que seja assim com todas as outras. Se eu for a uma reunião espírita e luzes acenderem e apagarem sozinha, mesas se erguerem no ar sem ninguém (físico) fazer força para que isso aconteça, se alguma pessoa começar a relatar toda a minha vida por mais que apenas tenha me visto uma vez, ainda assim eu não terei fé naquilo. Poderei acreditar que aquilo tudo é algo real, que não é fruto de um truque, mas não será suficiente para eu me agarrar com toda a minha alma naquilo.

    Fé é comprometimento, é entrega, é confiança, é esperança em algo que lhe é exterior. Acreditar em Deus é uma coisa, até os demônios acreditam, mas confiar que Ele é a razão pela qual existimos, e crer que só podemos existir para ele, é um ato de fé (mais um vez peço desculpas pela carga religiosa do meu discurso, estou falando de um exemplo que me é familiar). Fé gera dúvidas, fé gera conflitos internos. Ao longo de uma caminhada de fé você pode (e acho que vai) ficar vários meses sem sentir a presença de Deus e nem ter nenhum sinal de sua existência, mas ainda assim, cheio de dúvidas, você persevera. Muitos profetas do antigo testamento após receberem provas claras da existência de Deus, se sentiram por vários momentos desencorajados. E quando eles voltaram, não foi porque Deus apareceu e esclaresceu todas as dúvidas do cara, ou lhe deu mais provas (ele já as tinha) mas foi porque o cara tinha fé.

    Por isso que acredito que a fé não está baseada em certezas. Meu conceito de fé é um pouco diferente do que foi apresentado até então. Logo, se você, sabe que o muro está ali, você não tem fé no muro,você sabe que ele existe. Alguém já viu o filme Constantine? Tem um diálogo que o protagonista tem com Gabriel onde estam discutindo sobre o destino do primeiro em relação a vida após a morte. No meio do diálogo este Constantine diz ao arcanjo que deve ir para o céu porque ele tem fé em Deus (é algo assim, não me lembro direito), e Gabriel diz para ele: "Você sabe, e isso é diferente". Também acho diferente. Fé para mim é baseado em incertezas (incetezas não quer dizer crer sem base) e é algo mais profundo.

    Os milagres, as "provas", os sinais, são apenas uma maneira que temos de confirmar um nossa fé. Mas não é uma prova definitiva, pois um sinal pode ser interpretado de maneiras diferentes. Um exemplo disso é o meu próprio. Para mim uma das provas maiores da existência de Deus é o universo (Planetas, oceanos, Sol, Lua), mas quase ninguém ao olhar para o mundo vê Deus. Para mim isso é uma espécie de confirmação da minha fé, para muitos outros não é, ou é prova de outra coisa. Então antes da confirmação vem a fé.

    Me perdoem por praticamente pregar a minha fé para vocês (RS), mas fiz isso apenas como exemplo, que acredito ser um exemplo para várias outras religiões. E também desculpe por não ter dialogado tanto com as colocações do Madsen e do Ogro. Preferi, em primeiro lugar, apenas responder à questão inicial para o texto não ficar exaustivo.
    Obrigado!

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  5. Bom, eu honestamente não acho que a palavra crença esteja relacionada naquilo que se tem certeza. Tenho crença que o homem pisou na lua, tenho fé que o homem pisou na lua... pra mim são palavras sinônimas que podem, ambas, serem utilizadas tanto em casos que a pessoa tem evidência quanto em casos em que a pessoa não tem evidência. Concordo que evidência não é causa necessária de fé ou crença, provou-se que não tinham bombas biológicas no Iraque, e ainda tem americano que tem fé e crença de que tinham.

    E, concordo com que disse Madsen, de que, tem gente que acredita em Deus (tem fé, crença, tanto faz), sem menor preocupação com evidências, e tem pessoas que atribuem a algumas de suas experiências, caráter sobrenatural, e baseam sua fé nessa evidência (seja ela verdadeira ou não). Não acredito que tenha uma única natureza de eventos que leve as pessoas a crer em Deus, mesmo que dentro da igreja, as motivações da pessoa sejam consideradas inválidas.

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  6. A fé não pode existir se houver provas. Provas são irrefutáveis. Eu não posso acreditar na parede porque quer eu "acredite" nela ou não ela estará lá na minha frente. Eu seria louca de dizer não tem parede e sair andando pra frente ao risco de quebrar o nariz.

    Evidências não são provas, são indícios. A fé não se baseia em mais do que indícios. Se existe a certeza absoluta não há espaço para a confiança. Fé não é sinônimo de crença religiosa, muito embora o aspecto religioso do ser humano frequentemente exercite a fé, por ser mais abstrato e menos tangível.

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